Eletro-conformação | Inteligência de Produção
Eletro-conformação é um processo para se fabricar moldes, geralmente utilizados no slush.
Lembra de uns brinquedos que tinham muito na nossa infância, que são baratinhos, tem a cabeça e o corpo fofinhos? Eles talvez tenham feito parte da sua vida.
Esses brinquedos são produzidos por um processo de produção conhecida como eletro-conformação, que é uma técnica de se fazer moldes através de um modelo boneco em cera, que possibilita uma maior variedade de ângulos negativos de saída. Quando ocorre o ângulo negativo? Isso acontece quando a peça não consegue ser extraída do molde.
No processo de produção que tratei anteriormente é possível trabalhar com ângulos negativos, desde que o maquinário e o molde estejam adaptados para isto, geralmente desmanchando o molde para retirar a peça. Você já deve imaginar o quão complexo pode ser tudo isso, pois é necessário pensar num sistema e desenvolver esse molde. Mas na técnica de eletro-conformação é possível retirar a peça de dentro do molde, mesmo com um ângulo negativo, e na realidade essa técnica tem muito mais a ver com a característica do material, do que o ferramental.
A matéria prima é o vinil líquido. É feito através de uma mistura de materiais que são despejadas no molde. O material seca de fora para dentro, da mesma forma que o processo da barbotina. Porém, na barbotina o molde é feito de gesso e isso facilita, pois ele ajuda a absorver a água. Já na eletro-conformação o molde é de metal. Quanto mais tempo fica dentro do molde, mais o material seca e aumenta a rigidez. Muitas cabeças de boneca são feitas dessa forma, você reconhece quando aperta e percebe se é mais fofinha ou durinha. Além disso, estas peças podem receber uma pintura de alta qualidade com uma precisão muito boa.
O nome desse sistema usado para fazer esses brinquedos é slush. Esse tipo de peça tem um custo extremamente baixo e uma peça ou 10.000 peças custam quase a mesma coisa.
Como o molde é feito na eletro-conformação
E como é o processo para fabricar estes moldes? O primeiro passo é contratar um designer especialista em modelagem. Esse designer então vai modelar e planejar a peça. Se o projeto for de um boneco, é preciso pensar nas articulações.É preciso planejar toda a peça, quais partes vão se mover e como isso vai acontecer.
Por exemplo, num boneco que mexe a cabeça, é feita a modelagem do boneco todo e depois separa-se a cabeça do corpo. Aí então é feito o que se chama de batoque, algo que se coloca no final da cabeça para que seja possível encaixá-la no corpo. Por isso é muito importante o trabalho de um projetista que saiba fazer tudo isto.
Dentro da ATOM studios eu já desenvolvi alguns projetos desse tipo e trabalhamos com um especialista chamado Ricardo Zacariotti. Nós estudamos o projeto e o conceito e, a partir dessas informações, o Zacariotti desenvolveu um modelo físico em cera, já tendo em vista como seria esse boneco na produção final. Algumas vezes, quando o planejamento não é bem feito, mesmo com o modelo físico pronto, você precisa fazer adaptações.
O molde para o processo de eletro-conformação, é feito da seguinte forma: o modelo em cera passa por uma pintura metálica e depois por um banho eletrolítico, que funciona como um catodo. O que significa isso? Que você aplica energia elétrica nele, como se colocasse um fio negativo ligado nele. Do outro lado, você tem um anodo, um pedaço de cobre, por exemplo, ligado à parte positiva. Então de um lado você o polo negativo, o cátodo, com a peça em pintura metálica, do outro lado você tem o polo positivo, o anodo, com um pedaço de cobre.
Quando a corrente elétrica é ligada, os elétrons que estão presentes no cobre começam a migrar para o catodo e grudar em cima da peça, formando muitas camadas deste material. Depois de 2 ou 3 dias, às vezes até menos, ele criou uma crosta. Então a máquina é desligada, retira-se a peça, que está toda revestida de cobre. A cera ainda está dentro da peça, é preciso aquecê-la para retirá-la. Aí então a cavidade está pronta.
É possível fazer muitas cavidades, porém cada uma delas vai precisar de um modelo. Como já foi citado, se o produto tiver partes diferentes, para se movimentar, por exemplo, isso precisa ser planejado. Vai precisar fazer um molde para cada parte.
Retirando o produto da ferramenta
Com a cavidade pronta, você já pode começar sua produção, jogando o vinil dentro desta cavidade. É possível misturar tinta na massa e fazer com a cor que quiser. Por exemplo, no projeto que eu citei acima, o que mais aparecia dela era a pele, então a massa foi feita nessa coloração.
Depois que a massa está na cavidade, você precisa esperar ela secar para retirá-la. Uma informação importante é que é possível trabalhar com ângulos negativos em até 25% do maior diâmetro da peça, porque o material é muito flexível e é possível puxar a peça de dentro.
Depois que você retira a peça da cavidade, ela deve ter a cor que você escolheu e você pode pintar com outras cores, para mais detalhes que te agradem.
Esse processo é barato, o molde também não é caro. Fazendo uma comparação, os moldes do processo de injeção podem custar até 100 vezes mais.
Além disso, também é possível produzir até mesmo uma única peça. No projeto da boneca Tutti Cuti, por exemplo, foi desenvolvido o molde, produzido um modelo, com articulações e tudo, e esse modelo piloto foi apresentado ao cliente. Depois da aprovação, foram produzidas 10.000 peças, divididas em 3 ou 4 lotes. Isso não seria possível no processo de injeção, pois seria preciso injetar mais de 10.000 peças logo de cara.
Para você ter uma ideia, essa boneca, de aproximadamente 10 centímetros, com articulação nos braços e na cabeça, já pintada, custou, na época, em torno de 5 reais cada. No processo de injeção, para que ele se torne mais barato, é preciso injetar milhões de peças, para diluir o custo do planejamento e moldes.